15.5.11

18. O PATO E A GALINHA

1- A ação:

Todos sabem que operação em garimpo é sempre no limite, tanto para pilotos como para aeronaves. Na hora que não há nada para fazer e a adrenalina baixa, ficam todos meio 'loucos', aptos a fazer m...

Bem no meio de um churrasco, eu e uns companheiros (Um deles, o dono de um Belanca Citábria), observávamos uns patos e galinhas num cercadinho. Estávamos indignados, os bichos tem asas, mas ficam lá, pseudamente presos, comendo e c... sem parar.

Resolvemos colocá-los para correr, quem sabe, assustados, levantariam voo, se lançariam em direção às nuvens...’Voa pato’... e nada, era aquele alvoroço mas nada além de pulinhos de meio metro do solo, parece que o bicho canalizava toda energia apenas para fazer quac quac quac o mais alto possível.

Resolvemos então dar uma ajuda, um impulso. Escolhemos os mais espertos, ou melhor, os menos lentos e gordos, um pato e uma galinha.

Colocamos dentro do Citábria de estimação (Utilizado somente para o 'lazer', jamais para o trabalho), um teco-teco envocado com motor de 150 hps, peso pena e hélice de passo variável (Não original).

O roteiro incluía, subir mil pés acima da pista, calcular o vento de forma que os 'pássaros' 'pousassem' na pista sem muito esforço, reduzir a velô perto do stol e manter o bicho para fora do avião em 'posição' de voo antes de soltá-lo.

Pois bem, bichos bem acomodados e seguros, para não interferir na decolagem. Tem que segurar com firmeza senão vira uma anarquia dentro do avião.

O primeiro a ser 'lançado' foi a galinha...logo após o lançamento, a penosa se descontrolou, batia asa desordenadamente descrevendo uma parábola com posterior choque ao solo. Morte instantânea. Deu até pena. Mas é menos pior que um machado no pescoço. Foi para a panela.

Agora, o pato...após o lançamento, iniciou um voo descontrolado, alternando para controlado por uns instantes e voltando a se descontrolar, perto do solo, o pato abriu e parou de bater as asas, planou e pousou em curva a esquerda, empreendendo fuga para o mato. Até hoje o pato voador não foi encontrado.

2- Os preparativos:

Para quem acha que as aves foram entregues a própria sorte, olhem só:

Houve um cuidado especial pelos 'instrutores' para que o voo de ambos fosse bem sucedido. Após a 'seleção' dos 'voluntários', um pato e uma galinha, iniciou-se um treinamento intensivo, a galinha foi conduzida a um voo simulado a bordo de uma motocicleta na pista de 300 metros, para a familiarização com o vento e comprimento da pista. O mesmo ocorrendo com o pato.

Novamente, com a moto em movimento, a cerca de 40 km/h, ambas as aves foram soltas, e realizaram um pequeno voo em planeio. A galinha não demonstrou nenhuma falta de controle, manteve as asas abertas e regular equilíbrio, idem para o pato.

É de nota que ambos mantiveram suas funções intestinais a pleno durante todo o processo. (Seleção, treino, voo de lançamento e lançamento). Após, houve um período de descanso para as aves enquanto o avião era preparado.

A bordo, depois do alvoroço inicial, ambos passaram por um processo de familiarização com a cabine e altura, além da velocidade, algo superior a da motocicleta em 35 km/h. O avião, com a porta retirada, realizou diversas passagens sobre a pista sempre a mil pés, para melhor avaliação do vendo e local exato de 'lançamento' das aves que já estavam calmas e descansadas.

Não se compreende a causa do voo fatal da galinha, em vista do treino e simulações e também por ser notoriamente uma ave, equipada com asas e sistemas de controle.

O pato, apesar do sucesso do voo (planado, diga-se de passagem) demonstrou falta de inteligência por se dirigir ao mato, onde provavelmente foi devorado em seguida!

Em suma, não houve meios para determinar o porque do sucesso apenas parcial da empreitada. Apenas, foi verificado que a galinha impactou inicialmente o peito no chão, experimentando giro descontrolado sobre seu eixo transversal por inúmeras voltas...

Era de se esperar maior determinação e perícia dos indivíduos alados diretamente envolvidos no projeto.

3- Agora, o laudo.

Por incrível que pareça, a galinha chegou intacta ao solo, apenas quebrou o pescoço.

Visualmente, após o impacto, concluímos com inspeção visual, que a galinha experimentou uma moderada desaceleração, não ocasionando maiores danos além do trauma fatal de pescoço.

Apesar de ser uma ave, foi verificado que a baixa penetração aerodinâmica de seu corpo com consequente alto coeficiente de arrasto, criou grande resistência ao ar, o que deve ter contribuído para a impossibilidade do galináceo de manter voo controlado.

A mecânica do voo do pato foi interessante, quando batia asas, se descontrolava, quando não vazia nada, apenas mantinha as asas abertas, planava perfeitamente.

O pato percebeu que, se não fizesse nada, teria mais chance de lograr êxito na aproximação e pouso. Sua 'confiança' era tanta que na hora do pouso, se deu ao 'luxo' de vaze-lo em curva, já aproado em direção ao mato com o detalhe de 'emendar' o pouso com desembalada carreira, empreendendo com sucesso, fuga em direção ignorada!

Nota: As aves foram lançadas com velocidade de 75 Km/h, pode ter interferido nos momentos iniciais do voo, um certo excesso de velocidade, pouco acima da VNE das aves.

Mas isso já foi previsto, por conta disso, elas foram lançadas a mil pés, e em relação ao seu tamanho, concluímos que esta altura daria tempo suficiente para que as aves aplicassem procedimentos para redução da velocidade excessiva, retomada de controle, navegação, aproximação e pouso com segurança. O que só foi executado pelo pato.



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