15.5.11

Biografia



Paulo Cézar Capssa Parentoni nasceu no Rio de Janeiro em 7 de janeiro de 1966, é Piloto de Linha Aérea com vasta experiência como instrutor de vôo e na aviação executiva.  Possui um estilo inconfundível de escrita, onde mescla os estilos de crônica com o texto técnico. Atualmente mora em Camboriú-SC.

Trabalhos:




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1. ATÉ O ÚLTIMO INSTANTE NO CONTROLE

Tão fundamental quanto o vôo, é fazer o mesmo com a aeronave sob controle. Óbvio e corriqueiro. Mas não é o que acontece, e isso, justamente no momento em que mais se precisa de controle numa aeronave, que é no ‘pouso fora’.

São numerosos os acidentes em que, na ânsia de manter sua aeronave em vôo, os pilotos deixam sua performance se degenerar tanto que praticamente a aeronave despenca em direção ao solo, quase sempre no pior ângulo possível, eliminando qualquer possibilidade de sobrevivência da tripulação e passageiros.

Outrossim, são inúmeros os ‘pousos fora’ que com grande dose de sangue frio, a tripulação manteve o avião sob controle até os momentos finais e com manobras nos últimos segundos conseguiram salvar se não a si mesmos, grande número de passageiros.

Quando a aeronave se encontra em vôo de cruzeiro e ocorre uma pane que a obrigue a pousar, há, quase sempre, muito tempo para tentar corrigir a pane, a solução para a mesma é proporcional ao conhecimento da tripulação dos sistemas da aeronave e também domínio completo da lógica destes mesmos sistemas, pois nem sempre a solução apontada pelo manual soluciona a pane sem contar que pode agravá-la.

Posso citar como exemplo, vazamento de combustível. O local onde isso ocorre fornece distintas pistas que nem sempre o manual prevê, e seguindo cegamente as instruções do mesmo, simplesmente pode-se agravar a pane, portanto é fundamental o conhecimento de todo o circuito que alimenta os motores e conhecimento das características dos vazamentos em diversos pontos.

Quando a pane ocorre nos instantes finais do vôo em aproximação ou nos instantes iniciais, na decolagem, o tempo para solucionar uma pane quase sempre possibilita apenas uma transferência de combustível, alimentação cruzada ou mesmo ligar uma bomba auxiliar.

Em ambos os casos, a aeronave deve ser mantida sob controle até o momento do impacto pois só assim haverá possibilidade de adotar procedimentos de pouso que procure não só poupar a cabine de passageiros como as construções em volta.

- Pouso na água com as asas niveladas e velocidade pouco acima da de stol.
- Pouso em mato procurando ‘livrar o charuto’ das grande árvores.
- Pouso em cidade densamente povoada em ruas ou vielas.
- Pouso em montanhas...

Este último, de grande dificuldade, pois deve-se tocar o solo sempre em direção de ‘montanha acima’, com isso, não se aplica a velocidade de melhor planeio, a velocidade do avião nos momentos finais do vôo tem que ser muito elevada, pois ao se aproximar da montanha, o arredondamento é feito em subida! O que faz a velocidade do avião cair rapidamente, sempre muito mais rápido do que o calculado pela tripulação!



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2. QUANDO IFR É A ÚNICA OPÇÃO

Conheço alguns relatos, inclusive de sobreviventes, de acidentes ocorridos quando o voo por instrumentos foi 'imposto' pela natureza e o piloto não era preparado para isso.

Numa situação, um avião com paraquedistas 'ingressou' numa nuvem aparentemente pequena, esperando vará-la logo, o avião iniciou uma subida em grande ângulo, vindo a estolar, o piloto na pressa em recuperar o comando, aplicou manobras que resultaram em sobre carga estrutural na aeronave que perdeu uma asa e, fora de controle, chocou-se com o solo. Acho que 2 dos 4 paraquedistas conseguiram saltar.

Em outra situação, um colega foi surpreendido por uma camada de nuvens que se ‘fechou’ rapidamente, ele manteve a aeronave acima da formação, mas esta, a formação, foi ‘ganhando altura’, para não entrar na camada, ele também foi subindo. Sorte que a aeronave era um Corisco Turbo, mesmo assim, o motor já estava perdendo fôlego quando cruzou 18 mil pés! Por sorte, no desenrolar do voo, a formação começou a se dissipar e conseguiram chegar com segurança ao destino. Em suma, são vários relatos, alguns disponíveis nos relatórios da SIPAER.

Nuvens e nebulosidade são imprevisíveis, podem pegar o piloto de surpresa em sua rota, quando o mesmo se depara com a condição de voo por instrumentos, mesmo o piloto tendo capacitação em voo IFR, se não mantiver a calma nos momentos iniciais a possibilidade de acidente é quase certa por causa da desorientação espacial.

Uma dica já colocada a prova: Durante o voo, procure acompanhar a evolução das condições climáticas no desenrolar do voo, inclusive fazendo farto uso das comunicações, jamais entre em condição IFR se não estiver capacitado para vôos por instrumentos.

Uma vez que a entrada em IFR e iminente, até porque atrás de vc já está 'tudo fechado' procure, antes de ingressar na nuvem ou camada, familiarize-se com os instrumentos IFR, principalmente o horizonte e procure compensar o avião da melhor forma possível, ao ingressar, são exerça .pressão sobre os comandos. O avião dinamicamente estável se manterá em voo nivelado mesmo com ação de fraca turbulência, comum em nuvens normais.

Caso não tenha capacitação IFR ou a aeronave não seja homologada para vôo IFR ou mesmo os instrumentos essenciais estejam inoperantes, observe o giro direcional ou mesmo a bússola, se houver mudança lenta de proa, utilize com suavidade os pedais para compensar e mantenha a rota. Entre em contato rapidamente com o controle da área alertando-os de sua situação de emergência, lembre-se que dentro da 'sua' camada ou nuvem, pode existir outra aeronave voando normalmente em instrumentos ou na mesma situação do que vc ou mesmo montanhas.

Se possível, peça vetoração radar, mas para tanto é fundamental que vc dê sua posição exata, não adianta dizer que a 10 minutos atrás estava 'ao lado de um morro alto' ' passando por uma curva fechada no rio' ' perto de uma rodovia com alguns ônibus e caminhões'...

O piloto deve ter sempre certeza de sua posição, isso numa emergência pode ser fundamental para um pouso seguro. Siga as instruções do controle mas jamais faça curvas usando a inclinação das asas em condição IFR sem o auxilio de um horizonte artificial, utilize apenas os pedais.

Não quero ensinar ninguém a voar, mas sou a favor que todo aluno deva ter noção do funcionamento de um horizonte artificial desde o início de sua instrução. Aproveito para relatar fatos e garanto que estes podem acontecer com qualquer um, o mais importante é jamais desistir, jamais entregar os pontos, fechar os olhos ou ‘congelar’ nos comandos e deixar ‘correr solto’. Para quem tem essa possibilidade, faça uso dos simuladores de vôo em computador, preencha toda a tela com o painel do avião e realize diversas manobras observando apenas os instrumentos do painel.



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3. SUICÍDIO AERONÁUTICO

A definição mais próxima do “suicídio aeronáutico” é a de que seria uma espécie de suicídio involuntário coletivo protagonizado pela tripulação em comando. Tais conceitos devem ser aprendidos, principalmente para quem está começando no ramo e para quem já tem muita experiência, em suma, para todos que desafiam as leis da física.

O que leva um piloto a voar 'guardado' a 1800 pés numa região em que existem elevações a 2000 pés ou então, tentar decolar com restrição de potência num bi-motor que não tem capacidade de concluir o procedimento de decolagem monomotor além da sempre crítica transição vr-vmc?

O que faz um piloto abastecer uma aeronave com o combustível exato para o destino ou fazer uma perna com a máxima autonomia da aeronave, como exemplo: 4:30 horas de vôo num Sêneca com 4:40 de autonomia ou então 10 minutos de combustível para um pequeno voozinho com a família? Entrar numa camada sem ter equipamento para voo IFR, ou estando ele inoperante por falta de manutenção ou sem capacitação para isso ou tudo somado?

Isso acontece com mais freqüência que imaginamos, vários fatores levam o piloto a se deparar e ultrapassar estes limites com causas catastróficas. Em comum, está a não observação de procedimentos de segurança básicos, amplamente divulgados e operação totalmente fora de todas as normas de segurança aplicáveis a aeronave em questão e aos procedimentos a serem executados. É necessário o piloto adotar uma postura em cabine onde os parâmetros de segurança venham sempre em primeiro lugar, muito óbvio, mas quase sempre nunca observado.

Deve-se sempre que possível, em nome da segurança, abrir mão da competitividade tão comum no meio entre os pilotos com freqüente troca de informações e procedimentos, o que não teve muita importância para um, pode ser fundamental para outro. Ainda mais hoje em dia, onde temos farto conhecimento a nossa disposição com um simples clic no computador.

Para finalizar, na aviação, ego, ganância e arrogância são pragas que podem ser fatais, para quem as dissemina e principalmente para quem não tem nada a ver e confia cegamente nos profissionais na cabine da frente.



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4. A TAL HISTÓRIA DO "MEU" AVIÃO

Quando um piloto voa por muito tempo um mesmo avião, acontece um fenômeno interessante., que é a incremento de negligência dos procedimentos de checagem principalmente externa. Porque verificar aquele freno escondido que sempre está lá, apertadinho?

Pois bem, era um lindo dia e o 'aeroporto' iniciava sua movimentação. No empurra empurra frenétido das aeronaves, um Cessna acabou se chocando com outro do mesmo tipo. Era só uma encostada, coisa mínima, nem dava para perceber. Simplesmente a ponta da hélice torou o pino de uma das dobradiças do profundor, o que não foi comunicado para o dono ou piloto da aeronave atingida - procedimento comum entre concorrentes sem muito escrúpulo e caráter.

O avião afetado, ao decolar, um dos profundores traseiros começou a abanar com muita intensidade, o avião não conseguiu cumprir sua rampa para livrar obstáculos e acabou por colidir com a copa das árvores. Desta vez não houve sobreviventes. O piloto e seu lançador ficaram prensados pela pesada carga.

Há uma lista de verificações estruturais que deve ser seguida a risca, e com total atenção pelo piloto e quando esta lista é executada pelo co-piloto, e este DEVE TER EXPERIÊNCIA PARA EXECUTÁ-LA, não simplesmente olhar e ficar pressionando o pneu com o dedo, por exemplo, ou olhar para um sistema e ver se está tudo em ordem.

Tem que saber a FUNÇÃO de determinado sistema, pois ele pode estar em ordem, mas simplesmente foi montado invertido! Os pinos, alavancas, cabos, presilhas de capô de motores, tampas de inspeção, tomadas de pressão, abertura para sensores de instrumentos, dobradiças de profundores e superfícies de comando são muito especiais. Mais até do que parece, e não se iluda com sua aparente simplicidade. Todo cuidado é pouco com objetos estranhos, principalmente dentro de turbinas. Tente 'ligar' uma turbina com um ninho de passarinho dentro ou mesmo um gato...



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5. A COBRA E O JATINHO

Check de abandono? Que nada, coisa de gente que não tem o que fazer! É só 'desligar' o avião e ir para a balada!! Será? Um avião, vem de fábrica equipado com algumas coisas diferentes, que chamam a atenção. São diversas capinhas e tampas... algumas interessantes, com uma fita escrito 'danger'... Pois bem, as capinhas não são porta canetas e nem porta óculos, e as tampas não são vasilhas para alimentar o cachorro.

O jatinho tinha acabado de chegar, eram por volta de 18 horas, movimentavam o avião para estacionar de forma que na manhã seguinte era só 'ligar e zarpar'... coisa rápida, coerente com a proposta de um táxi-aéreo. Mas uma cobra observava tudo aquilo, curiosa com aquelas tocas brilhantes e redondas se aproximando de 'sua' árvore.

Logo que caiu o manto frio da noite, a cobra ficou mais interessada na viabilidade de alcançar aquela toca, o profundor do avião estava bem próximo a árvore. O réptil rastejante não pensou duas vezes, estica daqui, dobra dali, pronto, acesso a sua nova casa, e ainda quente!

Pela manhã, ao contrário do abandono, os procedimentos de partida foram feitos com cuidado, inclusive a vistoria da aeronave, utilizando lanterna, o co-piloto ficou surpreso ao encontrar a cobra entranhada dentro da turbina...e agora?

O piloto de imediato pediu para o copila meter a mão lá dentro para puxar a cobra, o copila, após vistoria, concluiu que a cobra era venenosa e não topou a parada. De repente, todo mundo no campo passou a entender de turbinas e cobras, e iniciou-se uma seqüência de aconselhamentos para tirar o bicho de lá, o piloto estava apavorado e olhava o relógio a toda hora, sabia que tinha c...no pau.

- Joga um balde d água!
- Liga a turbina e deixe a cobra administrar a situação da melhor forma possível.
- De um banho de WD 40!
- Fumaça, se serve para tirar abelha de colméia, serve para tirar cobra de turbina...

A última opção foi escolhida, mas a fumaça ia para todo o lugar, menos para dentro da turbina. Antes que incendiassem o avião, o piloto resolveu pedir socorro. O... vôo já era. Quem contratou o avião já tinha decolado do aeroporto em outro táxi.

A oficina mandou um fibroscópio, uma espécie de endoscópio...o mecânico, quase rindo, ‘achou’ a cobra. Com seu SCDT ( sacador de cobras de turbinas ) delicadamente a puxou pela cabeça...Mas a delicadeza acabou por aí, o réptil, declarado culpado pelo grande prejuízo, foi trucidado pela tripulação.

O jatinho seguiu para ‘casa’, o prejuízo foi superior a 10 mil reais, valores atualizados... e a pobre cobra perdeu a vida... Só porque a tripulação 'defumada' não tinha saco para fazer um abandono dentro dos padrões.

O cheque de abandono é muito importante, por motivos óbvios. Mas se pensas que o problema acaba aí... Ainda tem as ‘Vespas de pitot’. E estas, derrubam aviões! 



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6. AMIGOS À BORDO

Nutrimos por nossos amigos 'terrestres', laços de afetividade, respeito, admiração, preocupação com sua segurança e também um instinto de proteção. Mas o que acontece quando colocamos em um avião nossos amigos para dar uma voltinha...

O que se transforma em alguns pilotos que, quando estão com amigos à bordo, ficam literalmente fora de si, ignorando todas, absolutamente todas as normas mais básicas e didáticas de segurança e submete a aeronave muitas vezes a manobras insanas e com fim trágico?

Posso citar para voces diversos acidentes 'entre amigos'...tanto em automóveis quanto em aviões...mas vou me reter nas manobras... Que tal 4 tuneaus de Cessana 210, ou seja, 3,5...pois não houve como completar a última volta...neste se foram seis! Livrar montanha de Cessna...menos 2. Looping de Sêneca...menos 4. Decolagem 'vertical' de Sêneca, stal de dorso e...menos 4... Acho que queria emendar meio looping após a decolagem!!! no dorso, efetuaria meio tuneal!!!!!! Curvão em subida de Baron após a decolagem...uma espécie de chandelle em baixa altura mas que terminou em stall de asa...menos 4.

Todos os casos citados, o avião/piloto não estava em serviço, mas recebendo visitas de seus amigos ou trouxe os amigos para uma volta. Bom, pelo menos, quando levei conhecidos e amigos para voar, eles se deliciaram um monte com o tal do VLR ( voo em linha reta ), se emocionaram com uma curva de média, ficaram em extase ao sobrevoar a cidade, “adrenaram” com friozinhos de barriga...em suma, foi muito, mas muito divertido...para mim e para eles.

Para seu amigo terrestre, principalmente que nunca voou, eu garanto, de carteirinha...basta isso, qualquer voo padrão num avião pequeno os leva ao delírio, não precisa de mais nada.



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7. CLIMÃO NA CABINE DE COMANDO

É muito mais sério do que podemos imaginar. Enquanto um vôo corre na rotina, o CCC é até contornável, mas quando acontece algo, pode até contribuir para um fim trágico! Já aconteceu, todos sabem do famoso acidente por causa de climão e surto de ego. Vou relatar o que tenho certeza.

Voo de Navajão, em exelente estado, encerado, com bancos de couro e ar, um luxo só. Piloto e co-piloto tipo pai coruja e filho, 7 pax e algumas malas distribuidas pelos diversos bagageiros. No ultimo instante, apareceu como do nada o tal do 'filho do proprietário' recem saído do aeroclube com suas extensas 45 horas de convencional. O co-pila, foi dispensado, o super ego 'pediu' para ir na esquerda e o dono, junto ( no embarque não no voo ), concedeu este privilégio.

Climão instalado.

Cavok, com algumas nuvens no nível de voo, o avião não tinha PA operacional...mas tinha ar e bancos de couro e estava encerado com cera Garn Prix último tipo! Em certo momento um passageiro pediu um refrigerante (em alguns Navajões, a geladeira fica atrás). Nessa hora o piloto olhou para o “super ego” mas este fez que não era com ele. Para atender prontamente ao pedido do passageiro, levantou e foi pegar o refrigerante lá trás. Um dos passageiros também se levantou e foi para a parte de trás do avião conversar com o piloto não se sabe o que.

Bom, o Navajão é um avião de pequeno porte mas que possui corredor, o que permite que os passageiros transitem por dentro do avião, mas isso acarreta alterações no equilibrio do avião que com o PA inoperante, ocasiona mudanças fazendo o avião subir ou descer conforme a agolmeração de passageiros em diferentes partes de seu interior.

O avião começou a subir e imediatamente entrou numa nuvem das diversas que tinha na área, o manicaca arrogante se assustou e comandou com muita violência manche picado, o piloto que estava atrás, bateu com a cabeça no teto e desmaiou.

O menino puxou o manche com muita violência, o avião ficou na vertical quase de dorso e entrou em stall seguido de parafusso, iniciando em dorso, pendendo para parafusso chato. Para a sorte de todos, um dos passageiros, que era piloto de garimpo, a muito custo assumiu a direita. O menino congelou nos comandos e segurou o manche em cabrado com muito esforço. Outro passageiro, muito forte deu uma gravata no copila, tentando puxa-lo do banco, não conseguiu, mas o mesmo soltou o manche.

O avião definiu um parafuso normal e o passageiro conseguiu controlar apesar da anarquia instalada em todo o avião. O cara não quis aceitar o ocorrido e disse que o avião tinha dado problema, pois subiu sem aviso e que ele iria conseguir controlar.

Mais uma vez CCC instalado. O piloto 'acordou' com um baita machucado na nuca, assumiu o lugar do passageiro e dali não saiu mais até o pouso. Ainda ouviu do menino que se contasse para o pai o que aconteceu estaria despedido.

Logo que chegou, ligou para o patrão e explicou o ocorrido. Sem perda de tempo, colocou isso na relatório de manutenção do avião para oficializar, mas aparentemente não houve resultado efetivo pois o dono do avião era um político! O piloto pediu demissão e foi para uma grande. Conseguiu!

Pois bem, as vezes, temos crianças para criar e contas para pagar, o que nos leva a tolerar certas situações como esta em que nos resta apenas administrar o tamanho do sapo a ser engolido

Infelizmente, hoje em dia ainda acontecem muitos fatos como esse. O que posso aprender com isso, é não se deixar abalar pelo CCC e prestar muita atenção no vôo, pois mais cedo ou mais tarde o arrogante vai cometer um erro, e neste momento, tem que haver alguém lúcido na cabine para que o erro não termine em tragédia.

Lidar com ser humano é muito complexo. O ego e arrogância inviabiliza a condução de uma aeronave dentro dos parâmetros de segurança! E jamais pensem que isso só acontece no Navajão do Táxi Aéreo da esquina!



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8. TATAME VOADOR

Poucos tem haver com o que acontece entre quatro paredes! Mas, e entre ‘ quatro painéis’?

Era um vôo nacional longo, na cabine de comando, três tripulantes, piloto, co-piloto e flight ou engenheiro de vôo, como queiram.

Os perfis:

Piloto – Heterossexual, mal resolvido no casamento e que gosta de ser o centro das atenções.

Co-piloto – Homossexual, bem resolvido em seu relacionamento (coisa rara) e extremamente profissional no desempenho de sua função.

Engenheiro – Em final de carreira, profissional que gostava de sua função e a fazia muito bem.

No desenrolar do vôo, pouco tempo após o final do primeiro serviço de bordo, o piloto deixou a cabine e foi ‘flertar’ com uma aeromoça. Ao retornar a cabine, ciente da opção sexual do co-piloto, iniciou umas conversas provocativas, infrutíferas e que em nada somavam ao vôo.

Como o co-piloto o ignorava por completo e se dirigia apenas ao engenheiro com assuntos referentes ao consumo e desempenho (obviamente, o que é de se esperar de uma tripulação) o piloto alterou seu tom de voz para chamar a atenção, entre resmungos de quem manda aqui sou eu, acabou por dar um tapa na cabeça do co-piloto!

O co-piloto, já de saco cheio, se levantou e ‘enquadrou’ o piloto na porrada, que se defendeu a altura, o flight, percebendo que não conseguiria apartar o ‘acerto de contas’ chamou a primeira aeromoça que ‘passava’ pelo local, esta, vendo a gravidade da situação, chamou um comissário e ambos conseguiram ‘salvar’ o piloto que se encontrava ‘imobilizado’ e quase desmaiado.

Entre hematomas, diversas cartas de aproximações espalhadas (a mala de cartas e mapas foi utilizada como arma não se sabe por quem), vermelhões e egos feridos, todos se salvaram.

Mas um passageiro presenciou tudo isso, aliais, vários, mas este, se levantou e antes que a aeromoça fizesse uso da famosa frase – Senhor, retorne a sua poltrona e coloque seu cinto! Deu-lhe uma famosa ‘carteirada’ e comunicou que estava ingressando na cabine de comando.

Lá chegando, se identificou e tratou de avaliar se a tripulação tinha condições de unida, prosseguir o vôo e tratou de colocar panos quentes no assunto.

O piloto e o co-piloto passaram por avaliação psicológica e nunca mais constituíram tripulação, a empresa aérea seguiu a recomendação de não dispensá-los.

Hoje em dia, voar pode até parecer monótono, um longo acompanhamento da dança de números em painéis LCD, é normal que assuntos paralelos surjam, mas é também prudente que o respeito mútuo e o franco diálogo permeiem o desenrolar do vôo.

Ao meu ver, a relação entre tripulantes na cabine de comando tem que primar pelo profissionalismo, quando a situação começa a descambar para competições de ego e quem manda aqui, é porque já se deteriorou, com isso, se faz necessária uma intervenção para que este desconforto não termine em acidente. Um dos dois envolvidos tem que manter a lucidez e partir para o deixa disso, nem que seja necessário ‘engolir um sapo’. O ofendido deve ter em mente que sempre haverá uma melhor oportunidade (em terra!) para colocar tudo em pratos limpos.

Um co-piloto, que se sinta ofendido e ofuscado, pode não desempenhar sua função em momentos que sua intervenção seja crucial para salvar o vôo de um acidente iminente!

É estúpido nutrir o pensamento egoísta que se algo acontecer, só ‘ele’ vai se f... E que sua ‘parte do avião’ vai sair intacta! Em acidentes de grandes proporções, normalmente o ‘lado direito’ sofre tantos danos quanto o ‘lado esquerdo’, isso quando ambos não são pulverizados!

Se não dá para ter consideração e respeito pelo companheiro de cabine, que tenham pelo menos, por seus passageiros e outros tripulantes da cabine de trás.



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9. COPILOTO

Era um voo de rotina no táxi aéreo, de Sêneca.

O piloto decidiu repousar um pouco, uma soneca. E pediu para o ‘copila’ seguir o rumo, apontando para a bússola que tem um aviãozinho desenhado. O Giro direcional.

Cerca de uma hora depois o piloto 'acordou' e percebeu que estavam perdidos, perguntou para o copila o que ele fez, ele disse que manteve o 'aviãozinho' sempre na proa certa, isto é, apontado para frente.

Para quem não conhece, naquele instrumento em especial, o 'aviãozinho' é fixo, pintado no vidro do instrumento, o que gira é a escala, então o copila seguia a risca, confiante que estava tudo certo e feliz na sua desenvoltura de manter o 'aviãozinho aprumado' enquanto a escala e o avião giravam sutilmente para tudo quando é proa.

Depois de procurar a rota sem sucesso, já caindo a noite, o piloto resolveu fazer um ‘pouso fora’ antes de o combustível acabar, o piloto conseguiu pousar as escuras numa estrada vicinal seguindo um carro que por sorte corria muito!

Era uma Pampa 1.8 alucinada! Muita sorte, muita perícia!

Portanto, o silêncio de um co-piloto não significa que ele tenha entendido o que lhe foi pedido, o piloto deve se certificar da experiência real de seu co-piloto seja para qualquer função que se desenrole antes, durante e até depois do vôo.



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10. DISPARO DE HÉLICE

Hélice do Brasília.

Entre as informações que tenho sobre isso, algumas foram fornecidas por um piloto com mais de 3 mil horas no tipo!

Quando do projeto de uma aeronave, diversos fatores são levados em consideração, o conjunto moto-propulsor e sua adequação ao projeto são muito importantes. Turbinas têm como característica peculiar, uma elevada ‘marcha’ lenta, cerca de 70% de sua rotação máxima.

Em virtude disso, um conjunto propulsor turbo-hélice, tem maior capacidade de tração em ‘marcha lenta’ (idle) do que uma turbina.

O Brasília possui como característica, ‘disparar’ no táxi, obrigando a tripulação utilizar constantemente os freios para conter o avião na velocidade adequada. O que gera um desconforto para a tripulação e passageiros além de aquecimento e desgaste prematuro do sistema de freio das rodas.

Para sanar este problema, projetou um passo de hélice menor do que o mínimo, mas não ainda em reverso. Assim, durante o táxi, a tripulação leva a manete até o Ground Idle, no qual o ângulo da hélice não fornece tanta tração.

Mas, no projeto deste sistema em questão, surgiu um ‘efeito colateral’, dramático, que já ocasionou a morte de um familiar distante, oficial da FAB.

Em vôo, quando acidentalmente (e naturalmente) as manetes são colocadas nesta posição, normalmente na aproximação final quando a aeronave se encontra ‘alto’ ou ‘veloz’, o sistema muda o ângulo da pá para um ângulo inferior ao mínimo em vôo, quando o piloto reacelera, acontece o ‘disparo de hélice’ em que o sistema controlador de passo, com a hélice sob ação do vento relativo do deslocamento da aeronave e com o sobre giro da hélice em passo inferior ao mínimo, não consegue posicionar novamente a pá num passo maior do que o ‘de táxi’.

Caso isso ocorra em apenas um motor, a tripulação consegue com o outro motor apenas concluir a aproximação e o pouso, ao diminuir a velocidade do avião e consequentemente o vento relativo sobre as pás da hélice, o sistema posiciona novamente as pás e a hélice que disparou passa a funcionar normalmente.

Se acontecer com os dois motores, a possibilidade de perda de controle e pouso antes da cabeceira é quase certa, uma opção seria o piloto puxar o manche e quando a aeronave literalmente parar no ar, retomar o controle, manobra quase impossível numa aproximação final.

Para resolver esta questão, colocaram um pino limitador que impede que as manetes acionem este sistema. Então, volta-se ao problema antigo, mas sem dúvida ‘menos’ fatal.

Agora, minha opinião:

Inicialmente, tenham em mente a ligação entre os ‘pinos’ e os acidentes!

Em tempos de paz, o que leva um departamento de engenharia de uma empresa conceituada a fabricar uma aeronave com uma limitação operacional tão crítica só pode ser de cunho econômico. A pressa no lançamento do avião e entrega aos compradores, a amortização dos custos envolvidos no projeto, em suma, dinheiro.

Um excelente projeto coroado com um ‘pino de metal’, ou um famoso gato, tão pejorativo possa soar essa afirmação, mas sim, um gato e com as consequências intrínsecas da convivência do bichano com um mecanismo de extrema precisão que é ou deveria ser uma aeronave.

Será que não haveria outra forma de controlar o táxi ‘surtado’ do Brasília? Não haveria tecnologia para isso? Que tal um ‘retarder’, sistema conhecido em ônibus e caminhões, basicamente um freio eletromagnético instalado no eixo gardã próximo à caixa de marchas e capaz de gerar 300 hps de potência reversa! No avião, poderiam planejar um sistema mais modesto, que pudesse ser instalado em cada roda do trem de pouso principal, mas isso é só uma opinião minha, com certeza o departamento de engenharia deve ter soluções mais adequadas.

Uma pena que esta não foi à opção preferiu-se um modesto pino ou diversas recomendações e treinamentos que foram inúteis para aqueles que já estão em outra esfera e ao mesmo tempo em que se planejou frases para justificar os acidentes:

- Inobservância da tripulação nos procedimentos de aproximação...

- Falta de treinamento no equipamento...

- Falha da tripulação por causa da carga de trabalho...

Muitos acidentes com o Brasília envolvendo disparo de hélice foram ocasionados inadvertidamente pela tripulação, mas também de propósito por pilotos que gostam da ‘segurada’ na final que o sistema proporciona, o tal do cutucar a onça com vara curta.

É aquela questão da mina no quintal de sua casa. Treine sua família, a empregada, o cachorro e os vizinhos e dê diversas recomendações sobre a convivência com a mina. Mas mais cedo ou mais tarde ela vai explodir, pois é de sua natureza.

Em paralelo ao assunto, minha recomendação: Quando o mecânico falar com você sobre certos detalhes do avião, preste muita atenção e entenda o que ele está dizendo nas entre linhas sempre tendo em mente que toda a responsabilidade sobre o vôo é do comandante e que facilmente pode levar toda a culpa caso ocorra um acidente.

- Não suba muito!
‘Há uma falha na fuselagem e a mesma pode se romper se você subir para a altitude de cruzeiro’

- Feche a porta com cuidado!
‘Foi feito um gato na tranca da porta e/ou no sensor que indica porta mal fechada e a qualquer momento ela pode sair voando por conta própria para dentro da turbina ou arrancar o profundor’

- Vistorie com cuidado o capo do motor esquerdo!
‘ Um trava se partiu e foi feito o ‘conserto’ da trava com arame que, com a vibração da turbina, pode se partir e arrancar o capo do motor’

- Não utilize o compensador de ailerom!
‘A dobradiça deu problema, não existe uma nova para substituição. Portanto foi feita uma solda que reduziu em 70% a resistência da peça que pode quebrar a qualquer momento e ficar abanando a ponta da asa’

- Ignore determinado alarme!
‘Problema dos sensores que pode mascarar se o sistema em questão apresentar defeito de verdade’

- Não ligue as duas telas ao mesmo tempo!
‘Há uma sobre carga no painel e aquecimento da fiação, foi feito um gato no disjuntor para permitir o funcionamento da tela, mas se ligar tudo ao mesmo tempo pode acontecer um curto ou incêndio’

- Manere no torque!
‘Sistema de transmissão de torque ao rotor principal do helicóptero com limitações e propenso a quebras’

- Acelere no calço!
‘Sobre carga’

- Atenção na aproximação e no ponto de toque!
‘Avião com limitações e/ou falha operacional em algum sistema de frenagem’

- Nem vou tocar no assunto dos pinos e relês!

As ‘dicas’ sutilmente encobriam graves defeitos que foram fatores geradores de acidentes, por não entendimento simples da limitação operacional, por falha dos órgãos de fiscalização ou pela própria utilização da aeronave em si em oposição as mais elementares normas de segurança.

Ainda temos o Carajá e suas manetes de potência pinadas, pois as asas não suportam os mais de 650Hps da turbina PT-6 original.

Talvez o avião perfeito esteja longe, mas um passo importante para se chegar lá é uma visão mais humana e menos econômica, com um conhecimento mais profundo das conseqüências de um acidente ao frágil corpo humano no exato momento que toda a capacidade cerebral do ser humano não é capaz de se contrapor a simples e estúpidos pedaços de ferro e alumínio (e pinos!) retorcidos, não alimentar uma noção equivocada e egoísta de que ‘acidentes só acontecem com os outros’ e por fim, falta de companheirismo, profissionalismo e união entre os profissionais do ramo!

Se alguém pudesse dar mais luz sobre o assunto, seria interessante, pois ainda temos muitos Brasílias em operação.



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11. OS AVIÕES E SUAS FAMAS

Algumas aeronaves levam fama por suas características.

O Cessna 310, por sua potência, o 206, por sua versatilidade, os Baron, por sua resistência. É de nota, que isso leva o piloto mais inexperiente ou ousado a superar os limites destas aeronaves, se colocando muitas vezes em situações catastróficas.

Um 310 estava pronto para decolar, o piloto percebeu que o motor direito sofria restrições de potência acima de 70%. Este 310 era equipado com dois motores de 325 HPs, uma potência considerável para um bimotor para quatro passageiros e dois tripulantes.

Pois bem, foi sugerida a revisão do sistema de alimentação do referido motor para se sanar o problema, mas o piloto, confiante da potência de sua aeronave, recusou, afirmando que tinha compromissos inadiáveis e que o avião decolaria com folga mesmo com esta restrição de potência.

Acelerou ambos os motores a mesma potência, cerca de 70%, vencida a velocidade de VMCG, velocidade de mínimo controle de ginada (Velocidade que a bequilha e o leme conseguem manter o avião alinhado com potência assimétrica, muito utilizado em aviões quadrimotores homologados para decolagem com um motor inoperante) completou a potência do motor bom.

Na VR, o motor com restrição parou de funcionar, voltou a funcionar e parou novamente, a aeronave inclinou para a direita e caiu na lateral da pista. O piloto e seu passageiro faleceram de imediato no impacto.

O circuito de combustível estava obstruído por sujeira. A sujeira foi se acumulando até o momento que bloqueou a passagem deste, parando o motor.

O 310 voa muito bem com apenas um motor, mas a falha ocorreu justamente entre a VR e VMC, impossibilitando o controle direcional do avião.

Jamais, em tempos de paz, um avião com restrição de potência deve decolar se o mesmo não for homologado e não for feito um procedimento distinto para isso, que engloba inúmeros cálculos, autorizações especiais, tripulação treinada e planejamento de rotas. Parece óbvio, mas não é o que acontece.



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12. POUSOS E SUAS VARIAÇÕES

É fato, todo o avião que decola, um dia terá que pousar, isso se o mesmo não for ‘abduzido’ no meio do caminho. E este pouso pode ocorrer de
várias formas, se a tripulação terá ou não sucesso no mesmo depende de diversos fatores, cujos principais são: Conhecimento do equipamento; avaliação das condições meteriológicas; procedimento dentro da seqüência correta e observação do terreno onde ocorrerá o pouso para adequação da configuração da aeronave e procedimentos de aproximação.

O escrito neste texto são por experiência própria, observações e relatos de colegas.

Conheço três tipos de pouso:

- Normal
- Em emergência: Quando a pane não implica em incapacidade da aeronave de se manter em vôo no momento.
- Forçado: Quando a pane impossibilita a aeronave de se manter em vôo.

Na água:

No mar: Aí vai um adendo: Muitos aviões que não se mantem em vôo com pane em algum motor ou restrição de potência podem, ao nível do mar ou próximo a uma superfície plana, ainda se manter em vôo nivelado, isso acontece por causa do ‘efeito asa sobre o solo’ ou mesmo no mar, que é até mais favorável visto o mar ser mais plano.

Entre a asa e o solo/mar, em baixa altura, cerca de 5 metros ou menos, forma-se um colchão de ar criando resistência e impedindo que a asa se aproxime do solo e também aumentando em muito a estabilização do avião.

Os russos tem um amplo conhecimento do assunto desde a época em que estudavam estes efeitos e os aplicavam nos veículos conhecidos como Ekranoplanos.

Quando da criação deste efeito pela proximidade da asa com o solo/mar, esta tem sua sustentação em muito ampliada, reduzindo assim a potência necessária para manter a aeronave em vôo.

Para efeito de entendimento, o maior dos Ekranoplanos, possuía um peso máximo de decolagem de 544 toneladas e se mantinha em vôo (rasante sob a água, entre 4 e 15 metros) a 430 Km/h de cruzeiro com apenas 26 toneladas de empuxo, fornecidos por apenas duas turbinas à 75%. Seria como um A 380 carregado voando com apenas um motor de 767 dos mais antigos, na classe de 57 mil libras de empuxo total!

Portanto, antes de ‘sujar’ seu avião e se preparar para uma amerissagem, procure explorar o efeito solo, quem sabe assim, a ‘garça’ consiga se manter em vôo até próximo de terra firme.

Mas, uma vez que o pouso na água e inevitável, alguns procedimentos se tornam interessantes:

-Fechar todas as válvulas, respiros e tomadas de pressão que possuem sistema de fechamento, posicionar os passageiros no interior da aeronave de forma que não fiquem acumulados em apenas um extremo, ou no fundo ou na parte da frente.

-Ter em mente que se não houver ruptura dos tanques de combustível ou da fuselagem, o avião flutuará como um barco, por conta disso, deve-se evitar ‘chapar’ o avião contra a superfície.

-Ao aproximar, manter as asas niveladas, o trem recolhido e o motor ‘vivo’ em funcionamento.

- Para aeronave com trem de pouso fixo, o pouso deve ser em stall, para aeronave com trem de pouso escamoteável, o pouso deve ser em pré-stall com a cauda tocando inicialmente a superfície.

- Por causa do efeito solo, a aeronave tocará por inteiro a superfície em velocidade inferior a de stall com full flap.

- No instante anterior ao toque desligar o/os motor/es para que os mesmos não se fragmentem e atinjam com seus estilhaços a fuselagem.

- Antes de abrir a/s porta/s deve-se observar se aquela parte do avião não está submersa. Já aconteceram casos em que as equipes de salvamento encontraram a aeronave imersa, intacta, portas abertas e todos os passageiros e tripulantes dentro, fora de suas poltronas e mortos!

- Em pânico, uma pessoa normal submersa consegue segurar a respiração por no máximo 15 segundos, não leve em consideração cenas de alguns filmes onde os artistas seguram o fôlego enquanto nadam (e as vezes lutam!!!) e/ou trocam beijos e carícias por diversos minutos, isso é Hollywood.

- Evite se atirar na água se houver vazamento de combustível, a querosene não se dilui e permanece na superfície, causando queimaduras fatais e se houver combustão, mesmo em meio líquido, será fatal se a pessoa permanecer na superfície!

Em rios: O mesmo, com a observação que o pouso deve se consumar no sentido da correnteza, pois caso contrário, o fluxo de água em volta da fuselagem impedirá a abertura das portas.

Há, proporcionalmente, mais acidentes com hidroaviões do que com aviões ‘terrestres’ devido as ‘peculiaridades’ do pouso em meio líquido.

Na copa das árvores:

A velocidade deve ser a menor possível, o trem deve estar distendido (em baixo) e a porta deve se destravada antes do impacto, após a parada do avião, deve-se observar que quase sempre, o mesmo fica preso à copa das árvores e a diversos metros do chão... São incontáveis as vezes que os passageiros ou tripulantes morreram ao sair do avião e não da queda do avião propriamente dita!

Em região montanhosa:

Talvez, o pouso mais difícil e com menor probabilidade de sucesso, pois o mesmo deve ser feito quando em uma encosta de montanha, em direção ao topo da mesma, em subida! Neste caso, em boa altura, cerca de 3 mil pés acima do ponto de toque, a tripulação deve abandonar a velocidade de melhor planeio a acelerar a aeronave ao máximo, pois na hora do arredondamento em subida, a velocidade cairá rapidamente, quase sempre mais rápido do que o calculado pela tripulação.

É importante, quando possível, o piloto treinar esse procedimento com ajuda de um horizonte com graduação em ângulos, num Navajão, por exemplo, em muito boa altura, acelere o avião até próximo a velocidade máxima de cruzeiro em vôo picado, puxe suavemente e constantemente o manche até um picht de 30º (simulando um vôo paralelo a uma encosta de montanha em direção ao topo) e observe quanto tempo o avião demora a estolar, (caso o piloto tenha pouca experiência, deve fazer o ‘procedimento’ acompanhado de um instrutor experiente) e para aprimorar, faça o mesmo e conforme a velocidade cai para os limites adequados, ‘jogue’ o trem de pouso e ‘flapeie’ o menino!

É interessante que o trem de pouso esteja distendido (em baixo), pois ajudará a amortecer o impacto. É fato que muitos morrem em decorrência de rompimento dos órgãos internos na hora em que o avião ‘chapa’ o solo com força.

Com fogo a bordo:

A pior situação, quando a tripulação toma ciência que há um incêndio incontrolável a bordo, deve-se iniciar o procedimento de descida e pouso imediatamente, a história mostra que demorar em declarar emergência, se dirigir à pista mais próxima ou tomar decisões mais ‘conservadoras’ levou a situação a fugir do controle originando uma catástrofe sem precedentes.

Ao menor sinal de fumaça e se verificando o adensamento da mesma, flutuação da corrente elétrica nos sistemas com desarme de disjuntores, variação de pressão hidráulica (normalmente, aumento de pressão em conseqüência do aumento da temperatura do fluído), o avião deve se dirigir ao pouso, onde quer que esteja, pois em decorrência do incêndio, o piloto pode perder o controle por falha nos sistemas hidráulicos ou ruptura da fuselagem por super aquecimento (confinado, a temperatura do fogo rapidamente chega aos mil graus), os passageiros podem morrer por inalação de fumaça ou até mesmo o avião pode simplesmente explodir se as chamas atingirem e perfurarem um tanque de combustível que não esteja totalmente cheio. (Tanque de combustível cheio não explode).

Caso antes do pouso, a fumaça comece a tomar conta da cabine, é fundamental que se abra uma porta na frente e outra atrás ou quebrem-se janelas para que haja circulação de ar dentro da cabine, isso possivelmente alimentará as chamas, mas possibilitará que os passageiros não morram sufocados por inalar fumaça.

No momento do pouso, caso haja fogo na parte externa do avião, a porta deste lado deve permanecer travada, pois na hora do impacto, o combustível espirrado em chamas pode se espalhar por dentro da cabine, com as conseqüências lógicas.

A intensidade da fumaça e o calor dentro do avião é algo ímpar, nesta situação, em pânico, dificilmente uma pessoa pode segurar a respiração por mais de 20 segundos, portanto e importante que todas as medidas sejam tomadas num curto espaço de tempo.

Se houver copos d’água ou refrigerante, seria prudente molhar roupas e cabelos e ter atenção especial nas crianças, normalmente elas ficam paradas sem ação aguardando auxilio.

No mais, é interessante que todos os tripulantes tenham noção e prática de como utilizar um extintor de incêndio. Isso pode salvar uma ou várias vidas, se não a sua, a de seus passageiros!

Por último, na hora de um pouso forçado, muitas vezes a tripulação se vê tentada a nos últimos instantes, tentar uma manobra ou mudar uma configuração, como por exemplo, ao se aproximar de uma região alagada, a tripulação percebe uma estrada perpendicular, não é demais atentar que há um limite de tempo para isso e quando esta tentativa é feita na hora ou amplitude errada pode por a perder uma situação que possibilitaria um pouso seguro. O pouso controlado no pântano pode terminar numa queda ‘em faca’ na estrada!

O mais importante é manter o controle até os instantes finais do vôo procurando utilizar toda sua perícia e conhecimento para salvar o máximo possível de vidas. Nestes momentos, os pilotos são a ponta da lança...Mesmo!

Nota: Parte do manual do Antonov AN–2 conforme descrito na revista ASAS nº 50.

“Se o motor parar em condições de vôo por instrumentos ou à noite, o piloto deve puxar o manche totalmente para trás (a aeronave não vai estolar) e manter o nível das asas. Os slats no bordo de ataque vão se estender a 64km/h e, quando a aeronave desacelerar até uma velocidade horizontal de 40km/h, irá começar a descer com uma velocidade de queda similar a de um paraquedas até atingir o solo”

É, sem comentários! Impossível ‘se matar’ com um avião destes!



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13. SUPERANDO ELEVAÇÕES

Muitas vezes, somos confrontados com situações que nos impõe limites para os quais nem sempre temos escolha.
- Passagens baixas para dispersão de 'aglomeração hostil'.

- Disparo de arma de fogo com o avião em voo.

- Resgate de equipe em território hostil ou em conflito.

- Resgate de acidentados.

- Ou simplesmente, para sentir sua aeronave superando limites físicos, o que ao meu ver, dá um grande prazer junto com incalculáveis riscos.

O mais importante nestas situações é o piloto ter total domínio de sua aeronave, saber os limites operacionais extremos e analisar o terreno, muitas vezes sem apoio em terra. Algumas vezes, onde se pode pousar, simplesmente não se pode decolar!

Ter completo domínio e instruir seus companheiros de bordo sobre procedimentos corriqueiros para eles, mas com certo grau de periculosidade para a aeronave, como disparo de arma de fogo ou lançamento de objetos.

E o que seria um resgate de acidentados, pode terminar com mais pessoas acidentadas ainda, por conta de uma decisão equivocada tomada no calor da situação.

Conhecimento e prática em manobras pouco usuais, principalmente de 'reversão', manobra comum no agrícola, mas muito útil em operações em terrenos acidentados, bem como noção de velocidade de melhor ângulo de subida, fundamental no intuito de 'livrar obstáculos'.

O que é velocidade de melhor/maior ângulo de subida: É a velocidade a qual a aeronave tem as melhores condições de superar obstáculos em decolagem ou arremetida, nem sempre é a melhor razão de subida e também quase sempre é inferior a velocidade de controle, muito delicada esta situação, pois a aeronave permanecera por um tempo além do usual em potência plena e abaixo da VMC.

O que é 'reversão': É a manobra na qual, com a aeronave em elevado pitch e em baixa velocidade, o piloto comanda uma mudança de proa de 180º para o lado favorável em relação a rotação do/s motor/es, ou características do terreno.

Desconsiderando manobras realizadas com motivos operacionais realizados por profissionais, viso com este texto, atentar a realização destas manobras em caráter amador, o piloto, que no fim de semana, na hora de folga, no treinamento, resolve levar seu avião a se deparar com limites pouco habituais.

Não há um perfil conhecido de quem realiza estas manobras, hora é o aluno voando solo que resolve colocar seu inocente Boero a prova, como já pude observar por duas vezes em intervalo de cinco anos, perto do Rio de Janeiro; Hora, um comandante de cia aérea com um inofensivo Tupi na região próxima a Santa Maria RS.

Qual seja o perfil e a manobra a ser realizada, é importante, muito importante que o piloto tenha noção do que está fazendo, conhecimento das capacidades, velocidades de seu avião e informação sobre as manobras a serem realizadas bem como idéia dos procedimentos a serem seguidos caso a situação ameace fugir do controle.

Vamos a dois exemplos referentes ao exposto no texto:

Superação de elevação!

1- A pista em questão, inclinada, de garimpo, possui cerca de 300 metros (pista considerada boa) na única direção disponível para decolagem, um morro de mais ou menos 150 metros de altura, a esquerda, um morro paralelo a pista de uns 30 metros, a direita, um vale, por onde corre o tráfego normal...Aviões vazios podem fazer o tráfego pela esquerda, é muito bonito ver Cessnas, Sênecas, Barons, Sertanejos em elevado pitch, em curva de grande livrando o morro. À frente, a montanha desafiadora e como vcs devem estar pensando, palco de tragédias. Infelizmente.

Conforme um colega relatou:

Vou me reservar a apenas relatar o que houve com a aeronave.

O piloto resolveu colocar seu Cessna a prova, junto com dois amigos (‘amigos a bordo’ requer um ‘debate’ à parte!), chegou a hora de superar o maior obstáculo. Após a decolagem, proa fixa, o avião foi ganhando altura rapidamente, em elevado ângulo, a quem observava, parecia que ia conseguir, quase próximo ao cume, o avião praticamente parou no ar, estolou e caiu entre as árvores.

Conforme declarou um dos sobreviventes, o avião subia bem, mas em determinado momento, ficou claro que não conseguiria ultrapassar o morro, na indecisão, a hora de realizar a manobra de reversão tinha se passado, o piloto segurou o avião o máximo que pode, mantenho as asas niveladas para assegurar baixa velocidade no impacto. Mesmo assim, ao se chocar com as árvores o tanque de gasolina se rompeu e o avião foi tomado pelas chamas.

2- Na mesma pista, alguns anos depois, um Baron bi-motor, com passageiros, decolou mantendo a proa do morro, a exemplo do Cessna, o piloto viu que não conseguiria superar a elevação, mas em tempo hábil, comandou uma reversão para a direita, logo após, reduziu a potência, o avião continuou a guinar e descreveu trajetória vertical como muna glissada, se chocando com as árvores.

Numa observação mais cautelosa, observou-se que após o piloto reduzir a potência, pois teve a confirmação visual de manobra concluída, o mesmo desconsiderou a baixíssima velocidade, com a redução dos motores e diminuição do vento soprado pelas hélices, houve perda de controle mesmo marginal fornecido pelo leme e profundor, bem como a pouca sustentação disponível.

Bom, os dois eram pilotos com muita experiência mas a situação a que foram submetidos os surpreendeu por alguns fatores:

Nos aviões a hélice, o vento soprado pelas mesmas, contribui de forma substancial para a atuação do leme e profundor além de fornecer considerável sustentação na ‘parte’ da asa logo após as hélices. Num quadrimotor, a sustentação é maior ainda e num avião dotado de hélices contra-rotativas seria o máximo possível.

No caso do Baron, o piloto teve a falsa impressão de manobra concluída ao observar o solo ao pé da elevação, desconsiderando que paralelo a trajetória prevista de seu avião, estava a face íngreme da montanha a apenas 10 ou 20 metros!

Outro sim, na situação exposta no caso do Cessna, qualquer velocidade inferior ou superior á de melhor ângulo sempre diminuirá o mesmo, a impressão do obstáculo sendo vencido pela maior inclinação do nariz causado pelo impulso instintivo de cabrar, cairá por terra no momento que o pico da montanha reaparecer maior do que nunca, situação esta em que privará o piloto de qualquer manobra, pois a performance do avião já estará muito deteriorada.

O piloto, ou tripulação, devem estar sincronizados na execução deste tipo de desafio supostamente ‘divertido e excitante’, a situação de aparente controle se deteriora rapidamente e a manobra de reversão deve ser executada de imediato à primeira evidência de que o avião não terá potência suficiente para superar o obstáculo.

Sobre o Boero e o Tupi, ambos concluíram a manobra superando o obstáculo!



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14. ARRUELA METIDA

O motor do Sertanejo já estava cansado, pois bem, retífica nele. Para quem não conheçe, o motor do Sertanejo é um boxer (mesma configuração do que o do fusca) de seis cilindros. O bloco, é dividido em dois, e as partes, unidas por parafusos.

Durante a montagem do bloco, não se sabe como, uma arruela ficou presa entre os dois lados do bloco. O mecânico apertou o bloco conforme o torque e percebeu que um lado não fechava com o aperto, ficava sempre uma pequena fresta. Ao reabrir, viu que havia uma arruela prensada, retirou a arruela, apertou novamente, não houve vazamentos e o motor funcionou perfeitamente.

Ao instalar no avião, percebeu-se que em velocidade de cruzeiro, após o ajuste da mistura, o avião começava a resonar, bem baixo, quase imperceptível. Somente um piloto com muita sensibilidade, poderia perceber. Entre um voo e outro, fazia-se a caça da fonte de ressonância.

Não houve sucesso, resolveram então conferir os acessórios e a montagem. Primeiro foi o escapamento, depois o berço onde o motor se fixa na aeronave, magnetos, estrutura, asa, folga de tirantes, longarinas, rebites, em suma, o avião foi virado ao aveso e nada de anormal foi encontrado, estava tudo perfeito.

Resolveu-se abrir o motor para conferir as folgas internas, checa-se aqui e ali e nada, nada mesmo... A solução foi raio-x no bloco... pronto, no raio-x observou-se diversas micro trincas.

Em conversa com o mecânico, descobriu-se a história da arruela de menos de 1mm, que com o aperto, forçou e deformou o bloco do motor, originando micro fissuras que 'cantavam' quando o motor tinha sua mistura ajustada.

O bloco passou por retífica e o motor ficou perfeito.

Mas, caso não se busca o defeito, as trincas aumentariam até o ponto do bloco rachar, podendo ocasionar vazamento de óleo e conseqüente parada do motor ou até mesmo sua quebra repentina e incêndio.

O avião é um instrumento de grande precisão, até um detalhe aparentemente inocente e de fácil solução para incorrer em sérios danos!



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15. PARÂMETROS OPERACIONAIS

Decifra-me ou devoro-te!

Uma aeronave é uma máquina de extrema precisão, e como tal, tem seus limites operacionais. Tão ideal é manter sua operação dentro destes limites como também entendê-los.

Um caso me vem a memória: Numa manhã fria, o jovem piloto dá a partida no seu avião de treinamento para mais um vôo solo. Observou a pressão do óleo e estava dentro dos parâmetros indicados, somente um pouco abaixo do que de costume, mas muito acima da indicação de pressão insuficiente!

Acontece que havia um dano por desgaste no motor, as folgas internas do primeiro moente estavam fora dos padrões e o óleo já não se mantinha nos espaços a ele destinado. A certa altura, a superfície que mantinha o óleo sob pressão se rompeu, a bomba de óleo não conseguiu manter a pressão no restante do motor após o ponto de maior vazão do óleo, gerando uma queda de pressão em todo o sistema.

O mesmo pode acontecer no caso de retentores, mas num motor a pistão, esta falha é denunciada por um acumulo de sujeira e ‘suor’ na parte de baixo do retentor ou
mesmo um escorrimento de óleo nos casos mais graves. Mas numa turbina, onde os sistemas de contenção e retentores são internos, fica muito difícil diagnosticar a pane apenas visualmente.

Durante o vôo, que transcorria normalmente, num súbito momento, o manômetro de pressão indicou queda brusca, no cheque cruzado com a temperatura, o aluno observou que esta se elevava rapidamente, o aluno aproou a pista na tentativa de retorno, mas o motor foi perdendo potência e travou. O piloto fez um ‘pouso fora’ com certo sucesso, resultando apenas em danos no trem de pouso.

No caso de um acidente com vítima fatal de um avião militar na Argentina, foi verificado que a pressão de uma as turbinas estava em desacordo com a pressão da outra, mas como se tratava de aeronave bi-motor, decidiu pela continuidade da missão, pouco tempo após a decolagem, ainda em voo baixo, a pressão caiu bruscamente o motor apagou. Em decorrência do peso do combustível a aeronave não se manteve em vôo, curvou para o lado do motor ruim precipitando-se ao solo.

Eu volto a alertar, é fundamental que a tripulação tenha conhecimento de tudo que se refere ao seu avião e ter amplas noções de mecânica, se aquele piloto do treinador tivesse noção real do funcionamento de um motor e das características do ‘filme lubrificante’ ele não teria decolado ou faria mais testes em terra com seu avião, com certeza teria detectado a falha no sistema de lubrificação e não teria corrido riscos.

A simples observação do ponteiro de algum indicador entre os limites não exclui por si só de haver algumas panes camufladas, que normalmente se agravarão em regime constante de vôo. Qualquer indicação fora do costume (ou em conflito caso seja multimotor) para aquela aeronave deve ser investigada, não se deve aceitar passivamente a observação de que ‘ainda se encontra dentro dos limites operacionais’, principalmente se a aeronave em questão for monomotora!



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16. DECOLAGEM DESCOMPENSADA

O Sertanejo preparava-se para decolar e 'atolou' durante o táxi. Os passageiros desceram para empurrar o avião. Pois bem, na hora de empurrar, alteraram as superfícies de comando dos compensadores, em seu curso máximo. Leme para a esquerda e profundor picado.

Durante a corrida de decolagem em pista curtíssima, típica em garimpo, o piloto percebeu o grande descompensamento, o tempo que ele perdeu foi o suficiente para o avião não ganhar altura para livrar obstáculos, as copas das árvores.

Ainda baixo, as asas atingiram a copa das árvores, as folhas impediram o fluxo de ar pela parte de baixo da asa, que interferiu na sustentação da aeronave e consequente queda da mesma por perda de sustentação, que permaneceu 'enroscada' nas árvores, não houve morte ou ferimentos.

É de fundamental importância da posição dos compensadores e a constante observância da atuação dos mesmos durante todas as fases do voo, principalmente IFR.

NOTA.: A posição dos compensadores é fundamental em decolagem noturna ou onde a situação de vôo por instrumentos ocorra logo após a mesma, um avião descompensado pode levar o piloto a colocar a aeronave em situação crítica quando abruptamente se encontra sem referência visual com o solo.

NOTA 2.: Um detalhe interessante, no 'pouso' sob copa de árvores, são muitos os relatos que após o sucesso deste, passageiros e tripulantes se machucam ou até morreram ao deixar apressadamente a aeronave e caírem no solo, pois as vezes, o avião fica dependurado a 20 ou 30 metros de altura!



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17. PARADA SEGURA

Um sistema de freio, apesar da simplicidade de construção, tem no uso e em suas reações, diversas peculiaridades. No garimpo, não há nada mais importante num avião além do motor, que os freios!

Este sistema atua sobre o conjunto roda/pneu, que em contato com o solo permite redução de velocidade do objeto por atrito. Numa observação mais apurada, podemos observar que a superfície de um pneu é totalmente irregular, essa irregularidade se ‘encaixa’ como dentes de uma engrenagem na superfície também irregular do asfalto.

Existem duas possibilidades de frenagem: Quando o pneu desliza pelo asfalto gerando arrastamento e quando o pneu continua a girar mesmo sob forte ação do freio.

Normalmente, se consegue melhores resultados quando o pneu continua a girar sob ação do freio, sem que se ocorra o travamento, justamente por causa do ‘engrenamento’ do pneu com a superfície do asfalto. Quando há o travamento da roda, a superfície do pneu em contato com o asfalto, perde material e sofre superaquecimento, gerando grande desgaste e aumento da distância de frenagem.

É fácil perceber quando o piloto dá uma ‘lixada’ no pneu... No táxi o avião faz este barulho: tunc...tunc...tunc...tunc... Que é causado quando à parte ‘aplainada’ do pneu bate no asfalto!

Mas há um outro efeito, este muito importante, tanto para aviões como que para veículos de peso elevado, como ônibus e caminhões, que é o Fading, perda de eficiência do sistema por super aquecimento, esta perda de eficiência aumenta gradativamente até a perda total do poder de frenagem, mesmo estando o sistema sob máxima pressão!

Quando nos deparamos com um grande caminhão descendo lentamente uma serra, não é porque o motorista está apreciando a paisagem, mas ele está fazendo uso da maior eficiência do freio motor conjugado a uma marcha mais reduzida para poupar o sistema de freio do temido fading. Se o motorista calcular mal a ‘aproximação’ de uma serra e iniciar a descida com a marcha errada, logo o freio super aquecerá e perderá eficiência, o caminhão ganhará velocidade, a caixa de câmbio não suportará o esforço e teremos uma jamanta desembestada descendo a serra sem controle, acidente certo!

Se vc estiver descendo uma serra, e ver um caminhão se aproximar largando uma ‘esteira’ de fumaça das rodas traseiras é bom sair da frente, e bem rápido. Sempre numa descida, mantenha um olho a frente e outro no retrovisor!

O mesmo acontece com aviões, mas enquanto uma carreta tem 10 tambores de freio, peso de 45 toneladas e atinge 110 km/h no máximo, um avião como o 737 ou A320 tem apenas um conjunto de freios em cada trem de pouso principal, pesa cerca de 65 toneladas e utiliza o freio perto dos 240 km/h! Em suma, em apenas mil metros, o freio do avião é capaz de perder totalmente sua eficiência caso não conte com o auxílio de outros sistemas, como spoiler e reverso. É normal o avião ficar todo esquisito depois de um uso mais intenso do freio, com vibrações e chiados, são sinal de fading e conseqüente perda parcial do poder de frenagem. Por conta disso, sempre tenha cautela no táxi e estacionamento do avião após pouso com uso intenso dos freios.

Antes que se perca a eficiência, há uma solução drástica, que o acionamento total do freio com travamento proposital das rodas, se a tripulação efetuar um procedimento de pouso em emergência onde não se pode contar com o auxilio de outros sistemas de frenagem ou quando a velocidade for superior a recomendada para acionamento dos freios ou mesmo quando se pousar numa descida! Deve-se desligar o ‘ABS’ e provocar o travamento das rodas, evitando-se assim, o fading.

Um detalhe, uma vez que as rodas estejam travadas e o avião comece a deslizar de lado, deve-se evitar soltar o freio da roda de apoio (se o avião estiver ‘jogando’ a cauda para a esquerda, a ‘roda de apoio’ é o conjunto esquerdo) neste momento, pois a repentina retomada de aderência dos pneus com arrastamento lateral pode ocasionar a fratura ou recolhimento do trem de pouso, agravando a situação.

Outro sim, se deve evitar o uso constante dos freios durante o táxi, pois caso seja necessário abortar a decolagem por falha em um dos motores o sistema já aquecido pode não ter capacidade para deter o avião no comprimento restante da pista.

Antigamente, era recomendado não se aproximar lateralmente do conjunto principal após um pouso com forte utilização dos freios, sob o pretexto que o pneu podia explodir sob a ação da distribuição gradativa de calor dos discos para o restante do conjunto inclusive pneu.

Conhecer a fundo o sistema de frenagem do seu avião, sentir seu funcionamento, seus limites operacionais e suas reações são se suma importância para que a ‘parada’ seja segura!



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